A vergonha alheia que marejou meus olhos

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Sou médico há 38 anos e tenho 62 anos de idade e, mesmo com toda essa experiência, nunca tinha sentido tanta pena, asco e dó de um ser humano como na noite de ontem ao ver postado na internet um vídeo tosco, feito às escondidas em uma reunião do Movimento Médicos pela Democracia que avaliava a formação de um grupo para disputar as eleições do Sindicato dos Médicos do Ceará. Não existia nem chapa ainda.


A história da humanidade é repleta de episódios e pessoas que, de forma torpe, ficaram conhecidas por atitudes semelhantes. Judas Iscariotes ao entregar Jesus com um beijo na face é o protótipo deles, mas existem muitos outros que por 30 moedas de prata ou algo mais destruíram a sua honra e a sua consciência.


No caso do vídeo, o que mais me entristeceu e fez uma lágrima rolar na minha face não foi o conteúdo divulgado, pois, editado e distorcido, não tem relevância e só expõe em poucos minutos uma discussão de mais de três horas entre médicos, mas sim a forma escamoteada de realizá-lo e a utilização agora como propaganda eleitoral da chapa da situação.


Chorei sim, não nego, lembrando daquele homem que se apresentou na reunião, beijou a face de algumas das nossas colegas e até apertou a minha mão e depois, sentado no fundo da sala como um conhecido apóstolo na última ceia, gravou às escondidas o torpe e famigerado vídeo.


Fiquei mais triste em agora perceber que a gentil conduta era premeditada e tinha um objetivo futuro de, falseando e manipulado informações, utilizar o desprezível material a mando da Chapa da situação, quando o desespero de uma derrota iminente do seu grupo ficasse clara como agora. O que o desespero não faz.


Tenho certeza que a grande maioria da Chapa da situação não concorda com esse tipo de atitude como, inclusive, fui informado por um de seus apoiadores. É a liderança da campanha e da atual diretoria que, desprovida de limites e na busca de alcançar os seus objetivos, não mede consequências.


Sem dúvida, só mesmo uma mente doentia e apavorada com a possibilidade da descoberta de atos insanos da sua atual gestão para articular esse maquiavélico Watergate tupiniquin. O espírito fosco do cameraman e sua mentora só merecem mesmo o desprezo de todos os médicos e a nossa piedade e orações.


Vergonha alheia, sim, de quem promove e estimula a infiltração de quinta-coluna, uma campanha de ódio entre colegas, vídeos apócrifos, de quem tem atitudes dissimuladas e fora de propósitos democráticos. Vergonha de uma campanha de baixo nível correspondente a tantas político-partidárias envoltas na corrupção ética e moral.


Apelo para que sejam realizados debates entre os candidatos, que as propostas do que fazer pelos médicos e pela saúde da nossa população venham à tona. O tempo em que os fins justificam os meios ficou no passado e não é prática que devemos tolerar nos dias de hoje.


Os médicos e médicas cearenses, independente das suas convicções, pensamentos e afinidades, merecem respeito e não aceitam o exemplo passado nessa campanha. A resposta vai ser dada nas urnas, é só aguardar.


Arruda Bastos é médico, professor universitário, membro da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores e do Movimento Médicos pela Democracia.