A campanha Março Amarelo e o Dia Nacional de Luta contra a Endometriose foram temas de sessão solene realizada pela Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece) na última segunda-feira (13/03), no Plenário 13 de Maio.
Durante o evento, requerido pela deputada Jô Farias (PT), foi destacada a importância da endometriose ser tratada como uma questão de saúde pública, assim como a sensibilização para a escuta ativa das pessoas e suas dores, a promoção do diagnóstico precoce e do tratamento efetivo e célere.
Relatos do impacto físico, mental e social que a endometriose tem na vida das pessoas e das dores causadas foram compartilhados por mulheres que convivem com a doença e, em sua maioria, demoraram anos para ter um diagnóstico.
A deputada Jô Farias relatou a experiência como mãe de duas filhas com endometriose e comentou sobre projetos de sua autoria que têm como foco a doença e estão em tramitação na Alece, enaltecendo a importância de uma rede de apoio e do avanço no diagnóstico e tratamento.
Segundo a parlamentar, o projeto de lei nº 319/2023 propõe o Dia Estadual de Enfrentamento à Endometriose, pois é necessário falar sobre o problema e entender como é possível contribuir.
O projeto de indicação nº 102/2023 dispõe que as servidoras com diagnóstico de endometriose e sintomas da doença poderão se licenciar por até dois dias a cada mês.
Para o deputado Júlio César Filho (PT), o evento lança luz ao assunto, reconhece profissionais que contribuem, assim como as pessoas que sofrem com a doença em função de negligência ou desconhecimento.
O parlamentar comentou que o tema precisa ser abraçado pelas políticas públicas em diversos níveis, municipal, estadual e federal, indicando o papel do Legislativo como ponte de diálogo, além dos avanços da Alece na área da saúde durante a gestão do deputado Evandro Leitão.
ESCUTA E DIAGNÓSTICO PRECOCE
Durante o evento, foram homenageadas sete pessoas que contribuem com o enfrentamento da endometriose no Ceará, como Zenilda Vieira Bruno, Tatiana Passos Zylberberg, Aline Veras Morais Brilhante, Liana Melo Herculano, Evangelista Torquato, Leonardo Bezerra e Sidney Pearce Furtado.
A professora Tatiana Passos Zylberberg, uma das homenageadas, compartilhou pontos da sua trajetória de dores, falta de escuta e diagnóstico tardio.
Elencando as diversas falhas que as pessoas com endometriose enfrentam, como as falhas no acolhimento familiar e social, na atenção primária, na educação, na atuação dos profissionais, na celeridade do atendimento e tratamento, ela afirmou que a solene realizada na Alece, para além de homenagens, demarca uma urgente visibilidade à endometriose
“A endometriose mudou a minha biografia. A maternidade interrompida marcou a minha história, a infertilidade também. Essa doença seguirá mudando biografias de forma violenta, enquanto não formos capazes de compreendê-la melhor, de antecipar o diagnóstico e de promover tratamento multidisciplinar a todas as mulheres”, afirmou.
Um dos homenageados da solene, o médico Sidney Pearce Furtado afirmou que a endometriose rouba sonhos por meio da dor, indicando que é preciso escutar a dor e que o período menstrual não deve ser incapacitante.
O médico especialista em Reprodução Humana, Evangelista Torquato, citou o papel do machismo na forma como a endometriose é abordada na sociedade, uma vez que as dores das mulheres não são escutadas como deveriam, ponderando também sobre a necessidade de debater a relação da doença com a infertilidade.
O médico Leonardo Bezerra, professor da UFC e atuante na Maternidade Escola Assis Chateaubriand, apontou a endometriose como uma doença destrutiva, progressiva e incapacitante que têm consequências variadas. Ele destacou ainda a relevância da multidisciplinaridade para enfrentar os desafios da saúde pública.
A médica ginecologista, professora e diretora do Núcleo de Atendimento Integrado (Nami/Unifor), Aline Veras, reiterou que a endometriose é uma questão de saúde pública, citando que a dificuldade desse entendimento é um obstáculo para a efetivação de políticas públicas. Ela comentou ainda sobre pesquisas que apontam os prejuízos sociais e econômicos que o diagnóstico tardio promove na sociedade.
Compuseram ainda a mesa do evento, o deputado Stuart Castro (Avante); a primeira-dama da Alece, Cristiane Leitão; Lino Alexandre, da Secretaria da Saúde do Estado, representando a secretária Tânia Mara Silva Coelho, secretária da Saúde do Ceará (Sesa) e Zenilda Vieira Bruno, médica e professora da Faculdade de Medicina UFC.
A sessão solene está disponível no YouTube da TV Assembleia.
Edição: Clara Guimarães – Por Samaisa dos Anjos