São João sem fogueira nas cidades do Cariri

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O que é maior, a força de uma tradição secular para louvar São João com a fogueira na porta de casa (na cidade) ou um “São João” dentro de casa, sem aglomeração e sem fogueira exalando fumaça para crianças, idosos, pessoas com problemas crônicos e ainda, este ano, o agravante: pacientes que estão se recuperando da Covid e que respiram com dificuldade?


Convenhamos que até São João, profeta como era, vai ter bom senso e entender que a tradição poderá esperar pelo ano que vem na cidade. Para os que moram na zona rural, se têm uma casa isolada e sem ninguém doente por perto, poderão acender representando a todos.


Neste momento é crucial pensar no outro. Essa é uma das grandes e inúmeras lições que o novo coronavírus está deixando para a humanidade. Se estou saudável devo proteger quem está mais frágil, como na direção defensiva do trânsito: o maior proteger o menor. Deveria ser assim na prática, porque no “papel” é.


Reunir a família e amigos, bem como preparar aquela mesa com bolo de milho, vatapá, mungunzá, dentre outras delícias, e acender a fogueira, principalmente na noite de São João, é uma tradição junina bem antiga dos povos nordestinos que simboliza o aviso dado quando São João nasceu. Mas, a humanidade não esperava pela pandemia e pelo isolamento social. Este ano a “nova realidade” exige novo comportamento: a recomendação dos órgãos públicos e profissionais da saúde é que a população não acenda fogueira na cidade.


Todos sabem do peso tradicional da importância religiosa e regional das fogueiras, principalmente para o Cariri, porém neste momento a prática não é aconselhada, tendo em vista que acarreta agravamento de quem possui doenças respiratórias como a Covid.


A fumaça gerada acarreta diversos prejuízos à saúde e principalmente ao sistema respiratório. De acordo com o médico imunologista do Instituto de Clínicas Médicas Especializadas (ICMED Cariri), Cícero Inácio, pessoas que sofrem com doenças respiratórias como asma, Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) e rinite, naturalmente pioram nesse período do ano, aumentando os casos. “Várias pessoas estão internadas em leitos de UTI devido a doenças crônicas e principalmente pela Covid-19, logo é importante evitar para que esses pacientes não tenham pioras no quadro”, disse.


A médica do Hapvida, Dra Kellen Nobre, também compartilha da mesma opinião e diz que é preciso diminuir os fatores que venham a agravar a infecção. “As fogueiras pioram as infecções em vias respiratórias e isso pode implicar em agravamento dos pacientes que estão em casa ou internados se recuperando da Covid-19. Vamos praticar a empatia e pensar no coletivo, vamos evitar acender fogueiras em prol de um bem maior”, destacou.


O decreto da Prefeitura de Juazeiro do Norte avisa que está proibida a prática neste São João, para ler clique aqui. Segundo a assessoria da cidade, a Guarda Civil Metropolitana, a partir das 14h, vai intensificar o patrulhamento para evitar fogueiras, garantindo o cumprimento do decreto. A ação acontecerá em conjunto com a Amaju e contará com quatro equipes espalhadas pelos bairros. Serão 16 guardas civis no total. Denúncias podem ser feitas através do número 153.