Quem lê tanta (má) notícia?

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Numa das estrofes do clássico “Alegria, alegria”, ainda em 1967, Caetano Veloso reclamava: “o sol nas bancas de revista/Me enche de alegria e preguiça/Quem lê tanta notícia?”. O que era um deboche pacato, tipicamente baiano, acerca da profusão de informações, pode ser entendido hoje como um verdadeiro pedido de socorro. E por três motivos graves e distintos.


Em primeiro lugar, porque a quantidade de títulos – não só impressos, mas somados às demais mídias – aumentou de forma assustadora. É muita informação pra qualquer ser humano. Separar o que é relevante do que não presta virou tarefa essencial e diária. Segundo, porque com o advento da Internet e suas redes sociais, o tal “jornalismo colaborativo” transforma em pauta um imenso corolário de bobagens e opiniões estapafúrdias, além, é claro, da vasta produção de mentiras, boatos e outras antigas distorções da realidade. Tudo isso ao alcance de um simples toque digital.


Mas o terceiro eu considero o pior de todos. A máxima, seguida à risca pela imprensa, de que “notícia boa é notícia ruim” foi elevada a níveis exponenciais. O negativismo que historicamente é atrelado ao perfil das manchetes – em qualquer parte do mundo, diga-se de passagem – nunca esteve tão em alta nas terras do pau-brasil. No desespero de competir com as redes sociais, as mídias – novas e velhas – estão se esmerando em veicular sempre o pior, numa expectativa, antes de qualquer coisa, comercial, achando que acharam o filão perfeito para retomar suas vendas. Deram um tipo no próprio pé.


Aviso aos incautos: não sou tolo a ponto de dizer “a imprensa inventou a crise”. Ela existe. Mas a mídia amplificou-a. Transformou-a em estandarte. Deu a ela uma dimensão de sentido quase existencial. Um niilismo contínuo cuja única “virtude” permitida é repetir o bordão estéril e sonolento do “tudo vai piorar” e “a culpa é do governo”, qual um adolescente descerebrado que decide que “nada vale a pena, pois o destino é a morte”. Esqueceu do básico: numa crise, todos perdem.


A pior parte é perceber que a própria Dilma passou a referendar, com palavras e ações, tal discurso. Ao contrário de Lula, que agia como estadista e chamava tsunamis de “marolinhas”, fazendo o país passar praticamente incólume em meio a colossais crises econômicas mundiais, o governo mostra-se fraco. Não passa tranquilidade ao mercado porque é o primeiro ente a não acreditar. Costumo dizer que o pior tipo de político não é o desonesto, o maquiavélico ou o amoral. O pior de todos é o frouxo. Sem ninguém pra fazer contraponto, a marola virou onda, com a imprensa produzindo vento. Resta saber quem está surfando.