Pesquisa sobre uso da pele da tilápia como curativo natural de queimados chega à ultima fase

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Pesquisadores do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM), da Universidade Federal do Ceará, em parceria com o Instituto de Apoio ao Queimado (IAQ), inauguraram, no último dia 13, o primeiro banco de pele animal do Brasil. O equipamento é resultado da terceira e última fase da pesquisa sobre o uso da pele da tilápia como curativo natural de queimados, que já apontou diversas vantagens da nova técnica em relação ao tratamento clássico.


O banco começa com mil unidades de pele de animais, retiradas e tratadas no começo desta semana, em Jaguaribara, conforme protocolos de esterilização e tratamento semelhantes aos utilizados nos bancos de pele humana. O tratamento já possui patente no Brasil e no exterior.


Este primeiro lote de pele deve atender à demanda do Instituto Doutor José Frota (IJF) e a um estudo multicêntrico previsto para o segundo semestre deste ano em Goiás, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo. Além disso, a pele também será destinada a novas aplicações que já vêm sendo pesquisadas pelo NPDM, como, por exemplo, na ginecologia.


A estrutura do NPDM foi concebida com intuito de transformar ideias revolucionárias como essa em um bem social“, explicou o diretor do NPDM e coordenador científico da pesquisa, Prof. Odorico de Moraes, durante coletiva de imprensa.


Essa pesquisa sintetiza e exemplifica uma das possibilidades que a Universidade pode contribuir para a sociedade, que é integrar a cadeia de conhecimento com a de assistência, no caso, a saúde, em particular. Isso é importante porque junta pesquisadores que em geral estão muito concentrados em laboratórios, gerando novos conhecimentos, com o setor de assistência, que atende às necessidades reais da população, e com o setor privado, para viabilizar o financiamento. Isso é uma tendência, disse o pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UFC, Prof. Antonio Gomes de Souza Filho.


RESULTADOS DA PESQUISA


A pesquisa sobre o uso da pele da tilápia para queimados, que tem patrocínio da empresa Enel, foi realizada em inúmeras fases. Somente na fase pré-clínica (antes de ser aplicada em humanos), foram 12 etapas, desde a captação das espécies à detecção da proteína colágeno tipo 1 em grandes quantidades, até estudos que garantiam que não haveria contaminação de vírus.


O coordenador da pesquisa, médico Edmar Maciel Lima Júnior, lembrou que anualmente são registrados 1 milhão de acidentes com queimaduras, sendo cerca de 3,6 mil no Ceará. A técnica tradicional, com uso de sulfadiazina de prata, é a mesma há 50 anos e provoca muita dor no paciente, além de permitir sérios riscos de infecção e perda de líquidos corporais.


Na fase clínica, com humanos, a pesquisa constatou inúmeras vantagens do uso da pele da tilápia. A pele da tilápia faz exatamente o que gostaríamos, que é aderir ao leito da ferida, bloqueando essa ferida do meio externo e, com isso, evitando contaminação, além de evitar perda de líquido, revela o médico.


Uma das grandes vantagens é a redução da dor sentida com a constante troca dos curativos. No caso da pele da tilápia, a dor vai sendo paulatinamente reduzida, ao passo que com o tratamento convencional ela começa a diminuir a partir do sétimo dia.


Além disso, os médicos também constataram redução do tempo de cicatrização das lesões. Em pacientes com queimaduras de segundo grau, o tratamento conseguiu ser reduzido em um dia e meio. No grupo de internados – pacientes com segundo grau profundo – o tratamento em média é de 21 dias para cicatrização. Conseguimos uma redução de dois dias e meio nesse processo de cicatrização, disse.


Por fim, as pesquisas apontam ainda uma redução no custo do tratamento ambulatorial da ordem de 57%. Imaginem no caso do paciente internado, disse o coordenador.


Fonte: Universidade Federal do Ceará