Um projeto de emenda à Constituição (PEC) apresentado pela deputada Erika Hilton (Psol-SP) levou o brasileiro a olhar com mais atenção para as discussões na Câmara dos Deputados em Brasília (DF). No último dia 11, a PEC da Escala 6×1 ganhou vida própria, e passou a pautar pesquisas, enquetes nas redes sociais, e a mídia.
De um lado um projeto que pretende dar mais tempo ao trabalhador brasileiro que trabalha seis dias por semana, 8h por dia somando 44 horas semanais, e tem um dia de folga. Do outro, estão empresários que alegam não conseguir manter seus negócios se o brasileiro ganhar por lei, um dia a mais de folga obrigatória e remunerada.
No centro da polêmica estão os deputados federais, que de um lado (esquerda e centro-esquerda) tentam mostrar que o modelo de trabalho aplicado no país é ultrapassado e sobrecarrega a saúde física e mental dos trabalhadores, enquanto parlamentares de direita e extrema-direita, que consideram a proposta um absurdo, e alegam que a medida ameaça a produção e pode provocar demissões em massa.
Erika Hilton, deputada que propôs o projeto, já declarou que não existe uma fórmula mágica, que a PEC precisa ser discutida, e que os arranjos necessários serão feitos ao longo do processo que inclui passar pelas comissões e plenária da Câmara, onde precisará ser aprovada em dois turnos com 3/5 de aprovação, e sem seguida no Senado, onde todo o processo se repete.
Apesar disso, deputados contrários à medida que beneficia diretamente os brasileiros que trabalham na Escala 6×1, e recebem em média dois salários mínimos, têm se recusado sequer a discutir a pauta, que vem ganhando espaço com apoio de movimentos sociais e da internet.
Modelos em outros países
Pesquisas feitas na Ásia, Europa e EUA mostram que a redução da escala e da jornada de trabalho são benéficas para o trabalhador, as empresas e o meio ambiente.
Em 2019, um estudo da Microsoft no Japão implementou uma semana de quatro dias de trabalho, aumentando a produtividade em cerca de 40%. A pesquisa indicou que, com menos horas, os trabalhadores estavam mais focados e eficientes durante o expediente.
Entre 2015 e 2019, a Islândia realizou uma das pesquisas mais amplas sobre o tema, envolvendo mais de 2.500 trabalhadores, mostrou que a redução da jornada semanal de 40 para 35-36 horas resultou em maior produtividade e eficiência, além de uma melhora significativa no bem-estar dos trabalhadores. Esse estudo levou várias empresas islandesas a adotarem a mudança permanentemente.
Dados divulgados pela New Economics Foundation no Reino Unido, mostraram que trabalhadores em jornadas reduzidas relataram níveis menores de estresse, ansiedade e esgotamento. Com mais tempo para lazer e descanso, as pessoas têm mais tempo para cuidar da saúde física e mental. Mesmo resultado apontado pelo Estudo da Perpetual Guardian na Nova Zelândia em 2018. Ao testar uma jornada de quatro dias por semana, a empresa encontrou níveis mais baixos de estresse (45% de redução) e aumento na satisfação dos funcionários.
Um estudo feito pela Henley Business School (Reino Unido) revelou que empresas que adotaram a semana de quatro dias observaram um aumento na retenção de funcionários e uma redução de custos associados a novas contratações. Além disso, a satisfação dos trabalhadores foi um ponto positivo, reduzindo o absenteísmo. Segundo a Universidade de Reading (Reino Unido), a redução da jornada de trabalho leva à diminuição do uso de recursos naturais e da emissão de carbono, já que há menos deslocamentos diários e um menor consumo de energia nas empresas.
Por – Karina Pinto