O maior significado da eleição de Rodrigo Maia para Presidência da Câmara é que a direita livrou-se de Eduardo Cunha, seu fiel cão de guarda, que não tem mais serventia, pois está bichado, como se diz no Nordeste. O vampiresco Temer, o usurpador, deve ter feito um sorriso sinistro de contentamento com o resultado, pois livrou-se de Cunha, o algoz da democracia e da Presidenta Dilma, mas também um aliado de Temer pervertido e voraz.
O interino lavou as mãos e “pela resistência, sei que foi por gosto” que aceitou a derrota de Rosso, candidato de Cunha. Mas quem é Rodrigo Maia, o novo presidente e candidato oficial do DEM, PSDB, PPS e PSB no 1° turno? Filho de César Maia, ex-prefeito do RJ pelo DEM, casado com a enteada de Moreira Franco, ex-governador do RJ pelo PMDB e eminência parda do Governo Temer, defendeu que Lula tinha cometido crime de responsabilidade e merecia o impeachment durante o processo do mensalão. Participou ativamente da campanha sistemática contra a Presidenta Dilma, foi um firme aliado de Cunha e um dos líderes do processo de impeachment de nossa Presidenta, golpista de primeira hora e aliado preferencial, com seu partido DEM, do PSDB e PPS.
A farsa do golpe recebeu uma falsa tintura de legalidade, pois um dos seus mais ferrenhos defensores teve o apoio e os votos do PT, do PCdoB e do PDT para “derrotar Cunha” e se eleger o 1° na linha de sucessão do usurpador. Os partidos de esquerda perderam a grande oportunidade de se unir numa frente parlamentar progressista e, pelo menos, derrotar o candidato cunhista no primeiro turno, o Rosso, mesmo que, provavelmente, perdesse para Rodrigo Maia no 2° turno. Mas esta seria uma derrota honrada, marcando sua independência, autonomia, unidade e firme posição contra o Golpe. Mas o que vimos, no primeiro turno, foi uma tremenda vacilação dos partidos de esquerda, que poderiam unir-se em torno da rebeldia de Luiza Erondina, mas preferiram os acordos de conveniência.
O PT, por declaração de Guimarães e outros dirigentes, foi o primeiro a negar apoio à candidata do PSOL, uma combativa aliada contra o Golpe, que liderou um ato simbólico na Câmara ao expulsar Cunha da cadeira da presidência, quando este quis votar uma matéria contra as mulheres. Preferiu, já no primeiro turno, apoiar Marcelo Castro, do PMDB, um aliado de ocasião, forçando inclusive a retirada da candidatura de Maria do Rosário do PT e negando votos a Erondina, uma das fundadoras do PT, prefeita de São Paulo pelo PT e que sempre esteve do lado das lutas populares e da democracia. Lamentamos também que o PCdoB não tenha apoiado Erondina.
Somando os votos de Marcelo Castro (70), apoiado pelo PT, de Erondina (22), do PSOL, e de Orlando Silva (16) do PCdoB, somariam um total de 108 votos, dando para derrotar Rosso (106 votos). Erondina, a candidata natural da frente de esquerda, disputaria o 2º turno com Rodrigo Maia. Certamente perderia, mas a esquerda sairia unida e fortalecida na luta contra os golpistas. Rodrigo Maia, o vitorioso, agradeceu, em primeiro lugar, os partidos da direita que o apoiaram, DEM, PSDB, PPS e PSB. Logo em seguida elogiou Cunha como o melhor presidente da Câmara e agradeceu, então, os votos do PT e PCdoB. Temer, imediatamente, congratulou-se com o vencedor através do Twitter.
A derrota de Cunha pode significar a vitória do Golpe contra a Democracia e contra o mandato da presidenta Dilma, outorgado pelo povo.
Manoel Fonseca
Médico e militante progressista